"O povo unido jamais será vencido" eram as palavras de indignação de uma multidão de utentes da Sociedade de Transportes Colectivos do Porto (STCP) que, ontem, se revoltou e parou o autocarro 600, junto à paragem da Azenha, no Amial, Porto, por volta das 14.30 horas. Sara Leal, estudante, de 16 anos, afirma ter visto tudo desde o início. "O autocarro estava completamente cheio. A fila de pessoas para entrar era enorme. O motorista nem sabia o que fazer. Algumas pessoas revoltaram-se e colocaram-se em frente ao autocarro, impedindo que este avançasse mais", explicou. A partir desse momento, instalou-se a confusão e começou uma manifestação improvisada.
Quando o JN chegou ao local, cinco autocarros encontravam-se imobilizados. Três com destino a Loios e outros dois no sentido inverso, que seguiam para a Maia. Os agentes da PSP, que desviavam o trânsito para a Rua da Azenha para aliviar o congestionamento que se verificava no local, tiveram também de acalmar e afastar as pessoas que se encontravam em protesto no meio da estrada.
Os ânimos dos utentes alteraram-se devido à sobrelotação dos autocarros. Serafim Mendes, reformado, era um dos rostos do descontentamento. "Nasci aqui. Nunca houve falta de transportes. Até eléctricos tínhamos. Estávamos tão bem. Tínhamos o 71, o 92 e o 95. Agora, temos apenas o 600, que chega sempre cheio de gente. É muito complicado", disse, exaltado.
Fernanda Cunha, antiga utente do 71, também se mostrava indignada. Tem de apanhar mais autocarros para chegar ao seu destino. "Venho do Araújo (Matosinhos) e para chegar ao Amial tenho de apanhar três autocarros, o 602, o 505 e, finalmente, o 600", disse.
De mão dada a uma criança, Vítor Silva, residente no Amial, manifesta o seu descontentamento por ter estado mais de uma hora e meia à espera de autocarro. "Estava na Barca e o autocarro nunca mais parava", exclamou. "Vinham completamente cheios. Por isso, não paravam".
Ana Bela Silva trabalha num café e começa o dia muito cedo. Com a alteração das linhas, ficou sem alternativa para chegar ao trabalho a tempo e horas. "Como é que consigo chegar ao trabalho às 6.30 horas se o primeiro autocarro é às 6.25 horas? Impossível", afirmou, desconsolada.
Apenas às 16.20 horas, ou seja, quase duas horas depois do início dos protestos e da interrupção da circulação, o 600 finalmente retomou o seu percurso. O que motivou alguns protestos, dado que algumas pessoas não pretendiam deixar partir o autocarro sem que primeiro lhes fosse dada uma justificação por responsáveis da STCP.
Em comunicado divulgado também ontem, a STCP admite ter registado "algumas situações de falta de capacidade, designadamente nas linhas 600, 905, 402 e 305". Por isso, anunciou que já foram tomadas medidas, ainda durante a tarde de ontem, para reduzir esses problemas, aumentando a frequência, alargando os horários onde a oferta é mais intensa ou colocando em serviço autocarros articulados.
Populações da Maia também podem sair à rua em protesto
Se a STCP não recolocar autocarros a servir os núcleos populacionais entre a Rua Central de Ardegães (Águas Santas) e a Rua das Escolas (Milheirós) e na zona do Lidador (Vila Nova da Telha), as populações daquelas freguesias da Maia também deverão organizar manifestações de protesto. Realizou-se, há dias, um plenário na Junta de Milheirós e, de acordo com Bragança Fernandes, presidente da Câmara da Maia, só a intervenção da autarquia conseguiu acalmar os ânimos. Até porque, acrescentou, a STCP comprometeu-se, numa reunião, a reavaliar as alternativas para aquelas áreas, que eram servidas pelas extintas linhas 62 e 87.
O presidente do município assinala, contudo, que se as ligações não forem repostas em breve, as populações podem promover protestos. "Os moradores estão revoltados. E a Câmara está do seu lado, porque têm razão. As próprias juntas de freguesia lamentam apenas ter sido ouvidas, neste processo, quando os factos já estavam consumados", acrescentou.