De ponto de encontro nos anos 80, o Centro Comercial Stop, no Porto, teve dez anos pujantes, mas a sua decadência começou com o fecho das duas salas de cinema. Mas há quem persista em remar contra a maré e prometa que, no próximo mês, já a fachada do STOP estará irreconhecível. "Vai ser um Centro de Artes Vivas, mantendo um complemento de centro comercial tradicional. Queremos dar mais cor à avenida e transformar o STOP num espaço único no país", garantiu, ao JN, António Júlio, ou Orion, como é conhecido no Porto.
Numa plataforma elevatória, dois operários, com um compressor de água, cedido por João Cardoso, um condómino, lavavam a fachada do centro comercial. Nada de grande aparato, numa explicação que é dada por António Júlio, dinamizador do projecto.
Voluntários
"Estamos a recuperar o centro, graças a amigos e a algumas contrapartidas dadas por condóminos com prestação em atraso. A plataforma foi cedida com uma pequena contrapartida, um homem andou a pintar, sozinho, metade do interior do centro, a cobertura do telhado, que custaria cerca de 60 mil euros, ficou-nos por sete mil. A fachada irá ser pintada de acordo com uma ideia minha [António Júlio - ele próprio uma personagem da cultura alternativa portuense - é arquitecto de formação], que é a de simular um gráfico de música digital, a exemplo do que se faz no estrangeiro", explicou Orion.
Para o arquitecto e desenhador de roupa, "há um núcleo de voluntários que se propôs fazer uma intervenção urbana", transformando um local "polémico" num centro acessível a todos.
António Júlio, que já há alguns anos possui uma loja de roupa gótica no STOP, reconheceu que há ainda muito trabalho a fazer, mas o principal estará concluído no próximo mês.
Além da pintura da fachada e de uma mudança radical na porta principal, as lojas de comércio tradicional, como uma perfumaria e um café e, mesmo, uma dependência bancária, passarão a estar viradas para a rua.
O centro irá manter, no entanto, a característica que o tem colocado no roteiro de muitas bandas do Norte. "Com salas enormes a serem alugadas por 125 ou 175 euros por mês, poucas são as bandas que resistem a ter aqui uma sala para ensaios ou um estúdio de gravação", sublinhou.
No STOP, ainda resistem duas discotecas - uma delas já foi famosa na noite do Porto e chamava-se "88" -, o que faz daquele centro comercial um local único, onde se pode ouvir desde a música "pimba", até à música electrónica mais "impenetrável".
Nos corredores, que só começam encher-se ao fim da tarde, com mais de 400 músicos, de cerca de 70 bandas, ainda é possível encontrar-se raridades, como uma boîte, montada e licenciada, que Orion chegou a alugar por 750 euros. Ou a loja de tatuagens instalada numa antiga ourivesaria, com um enorme cofre forte escondido na parede. "Não sei o segredo, nem quem tem a chave. Mas duvido que ficasse rico", ironizou o proprietário.